E é por momentos como esse que eu vivo essa vida de comissária de bordo. Quando você pega uma viagem com 32 horas em Miami Beach, em um hotel na frente da praia. Chamei o chinês para ir comigo, ele voa de graça, graças aos meus benefícios. Pela primeira vez ele me viu trabalhando. E disse que eu falo muito rápido no interfone (eu era a líder do voo).
Em Miami nos ficamos no hotel que é possivelmente o pior hotel de todos que ficamos em estrutura dos quartos. O hotel é velho, os quartos não devem ter visto uma reforma em anos. Mas ao mesmo tempo é o melhor hotel de todos os que ficamos, na frente da praia, piscina maravilhosa e todos os hóspedes são comissários: todos! O hotel nos trata super bem e já tem tudo customizado para nós.
TAM, SwissAir, TAP, United, US Airways, TACA, American Airlines, Delta, são só algumas das companias que hospedam seus comissários no hotel. Os comissários da TAM são famosos pelos churrascos na beira da piscina. Pelo que eu sei quando eles chegam o hotel já tem a churrasqueira preparada para eles.
Qualquer lugar que você olhar vai ter comissário. E é fácil confraternizar e fazer amigos quando a conversa flue fácil, todo mundo vem do mesmo meio de trabalho. Na primeira noite eu e o chinês ficamos conversando até as 2 da manhã com dois pilotos da American.
No dia seguinte alugamos um carro (com desconto de comissário já acertado pelo hotel) e decidimos dirigir as mais de 3 horas até Key West, o ponto mais ao Sul dos Eua. Sonho antigo, questão de riscar mais um item da lista lugares para visitar antes de morrer. Estava mais interessada na viagem, em fazer a famosa rota pelas ilhas e pontes que levam a Key West. US 1 - South até a milha 0.
Antes disso pedi dicas a minha amiga Patricia Zubioli, viajante profissional, sobre Key West. Ela disse que eu deveria parar em um parque estadual ao longo do caminho chamado de Bahia Honda State Park. E como eu confio nela, assim eu fiz.
O parque cobrava U$ 9 por duas pessoas e tem uma estrutura de marina, praias e lugares para pic-nic. Não tínhamos tempo para deitar e rolar ao sol, ainda tínhamos mais uma hora de viagem para chegar a Key West. E quando o chinês já estava começando a reclamar do dinheiro pago, uma movimentação de gente tirando fotos chamou a nossa atenção.
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AAAAAAHHHHHHHHHH, um peixe-boi!!!! |
Juro que eu acho que ele conseguia me ouvir da água. Não consegui conter minha surpresa. Eu queria pular na água, e abraçar e beijar essa fofurinha. Lá ele estava nadando na beira da marina, sem preocupação nenhuma. Parecia que gostava da atenção que recebia. Cada mergulho era um flash!
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Say cheeeeese! |
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Não é nenhum peixe-boi, só meu barrigudinho.
Bahia Honda State Park |
E felizes com os U$9 pagos nós seguimos viagem para Key West.
Chegamos lá já 14:30 quase violetas de fome. Antes de ver qualquer coisa, decidimos por comida caribenha e achei um restaurante pelo Google Maps. Quando chegamos ao restaurante, que surpresa.
A casa onde hoje é o restaurante foi um dia o escritório onde nasceu a Pan American World Airways, mais conhecida como Pan Am, no dia 28 de outubro (meu aniversário) 1927, com o voo Nº 1 partindo com destino a Havana, Cuba.
Ah é, o almoço.
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Mojito! |
Com as barriguinhas cheias, e cachacinha na cabeça, vamos ao que interessa. Chega de mentiras. Vamos ao ponto, vamos ao verdadeiro motivo dessas 3 horas e meia de viagem (trânsito difícil).
Gatos!
Sim, gatos! Mas não qualquer tipo de gato. Olhe novamente as fotos, percebeu alguma coisa diferente entre esses gatos e o seu "chaninho"?
Bom, voltemos a 1928 quando um charmoso homem e sua 2ª esposa, em lua-de-mel, chegaram a Key West, via Havana, diretamente de Paris. Esse charmoso homem por acaso se chamava Ernest Hemingway. Ele se apaixonou pela vida na ilha e decidiu por ali ficar. O tio de sua esposa Pauline, decidiu presentear o casal com uma casa caindo aos pedaços, a qual o casal restaurou e ali fez sua morada.
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Eu fiquei tão entertida com os gatos que esqueci de tirar uma foto da casa. Crédito: Hemingwayhome |
Nos 9 anos que ali viveu, Hemingway produziu grande parte de sua obra, incluindo "Por Quem os Sinos Dobram". E durante esse tempo na ilha ele também conheceu um capitão que tinha um gato com seis dedos. Hemingway gostou tanto do gato que o capitão o presenteou com o felino. E assim começou a lenda dos "Hemingway cats".
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Patrick e Gregory, filhos de Hemingway com Snowball
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O gato foi batizado de Snowball. Até hoje não se sabe se era um macho ou fêmea. Mas o que se sabe é que Snowball não brincava em serviço. Quase 100 anos depois, a casa é hoje um museu, habitada por mais de 40 gatos bem cuidados, descendentes de Snowball. Os jardins que circundam a casa são protegidos por uma cerca e os gatos andam livres pela casa, sendo os únicos permitidos a subir nos móveis, nas camas, onde quer que eles quiserem. Hoje a ilha é habitada por diversos gatos de seis dedos, possivelmente descendentes do mesmo, e muitas galinhas e galos. Não sei a história das galinhas, não muito interessada também.
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O escritório como na época em que Hemingway ali escrevia. |
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Quem tem gato sabe bem o que aquela mancha no meio da cama significa. |
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Impossível colocar cimento fresco nessa casa sem os gatos fazerem dela uma "calçada da fama" |
E enfim, ao final do dia eu achei o começo do arco-íris.