"Tchá por Deus o que que é esse AGORA VÔTE" - expressão de grande surpresa em cuiabanês



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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Racismo disfarçado de liberdade de expressão

Morar em um país diferente traz grandes surpresas. E as maiores não tem nada a ver com como as pessoas se vestem ou o com o que elas comem, mas sim com o qual diferente do seu pode ser o modo de pensar deles. Um país que se auto-intitula "The Land of Freedom" pode também dar espaço a assombrosa permissividade. Pra começar a entendar, leia o que diz a Primeira Emenda da Constituição americana:



"O congresso não deve fazer leis a respeito de se estabelecer uma religião, ou proibir o seu livre exercício; ou diminuir a liberdade de expressão, ou da imprensa; ou sobre o direito das pessoas de se reunirem pacificamente, e de fazerem pedidos ao governo para que sejam feitas reparações por ofensas."
Basicamente a Primeira Emenda garante o direito de religião, de expressão, de imprensa, de protestar pacificamente. Até aí há de se imaginar que em nada difere dos direitos de todos os brasileiros. A questão é que aqui praticamente não há limites. E claro que liberdade sem limite vira libertinagem, sua mãe já lhe dizia. Mas digo mais, liberdade sem limite permite a expressão de preconceito, de desrespeito à liberdade do outro, ameaçando tudo aquilo que se lutou tanto para estabelecer.

Complicado entender? Deixa eu te dar um exemplo. Na verdade te dou dois. É até difícil acreditar, mas existe nos Eua uma proclamada Nação Ariana. Um grupo de americanos brancos que pregam a supremacia ariana e os ensinamentos de Hitler misturados a uma doutrina cristã. A Primeira Emenda garante a eles a liberdade de expressão suficiente para organizarem passeatas com bandeiras estampadas com o símbolo da suástica nazista e proferir absurdos contra negros, judeus e quem mais não for considerado branco ariano. Isso não é liberdade de expressão, isso é ódio, é preconceito, é perigoso e deveria ser tratado como crime.

O segundo exemplo é uma discussão atual e ainda mais concreta sobre o abuso da liberdade de expressão. Alguns segmentos da sociedade americana estão perdendo a cabeça com a idéia da construção de um centro de cultura Islâmica há poucos metros do que um dia foi o World Trade Center, hoje conhecido como Ground Zero. Por semanas eu ouvi absurdos na imprensa e no rádio de políticos expressando total oposição à construção do prédio. Banners serão colocados em ônibus da cidade contestando a escolha do local. Já foi dito que isso seria como um "tapa na cara", uma "provocação" e perguntando "o porquê" da escolha do local. A pergunta correta na verdade é "por que não?".

Hoje finalmente vi na tv algumas poucas vozes que dão uma luz de senso em toda essa loucura. Hoje o prefeito de Nova York fez um discurso memorável, lembrando do que esse país foi construído e que a oposição à construção seria uma prova de que a semente do ódio que aqueles terroristas tentaram plantar em 11 de setembro estaria já começando a dar frutos: "Nós poderiamos trair nossos valores - e cair nas mãos dos inimigos se nós tratarmos mulçumanos diferente do resto das pessoas. Na verdade, criando esse sentimento na população seria como entregar a vitória aos terroristas - e nós não deveríamos apoiar isso". E é um alívio ouvir isso da boca de um político que tem o conhecimento de que uma pesquisa divulgada pelo Siena College Poll mostrando que 56% dos moradores de Nova York pesquisados são contra a construção enquanto somente 33% são a favor.

Na tv mostram parentes de vítimas que são contra, mas também mostraram parentes de vítimas a favor, que lembraram que pessoas de todas as religiões morreram naquele dia. Que para eles, assim como para todos, Ground Zero será para sempre um lugar sagrado, um túmulo. Que não importa qual o tamanho do memorial que estão construindo ou quão grande será a Freedom Tower quando terminarem a sua construção. O que eles apenas esperam é que a morte de seus familiares seja para sempre lembrada, e que talvez sirva também de exemplo do que o ódio e a intolerância são capazes.

Se conseguirem barrar a construção será a prova de que o terrorismo venceu e que os Eua não é tão livre quanto se pensava. Será admitir que pensam como eles pensam. Que todo americano é inimigo e deve morrer, sem exceção, e que todo mulçumano é terrorista e deve ser proibido de expressar a sua fé da mesma forma que todas as outras religiões. Será também uma grande oportunidade perdida de dar "um tapa na cara" do extremismo, e mostrar ao mundo que as torres caíram, mas que o que eles realmente queriam derrubar continua de pé: o sonho americano de liberdade.
 


Lamentável!

Um comentário:

  1. Salam, Priscila! Mas que Blog interessante e que vida fantástica você tem!
    Parabéns por sua atitude humanista e muita sorte com seu chinês!
    Kisses

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